18 janeiro 2012

“Texto bom é o que dá voz ao leitor. Falar, “roubar a palavra é conceito de cidadania”. (Bartolomeu Campos de Queiróz)



A primeira vez que vi e ouvi Bartolomeu Campos de Queiróz estava eu em uma platéia de gente interessada em projetos de leitura e ele, entre outros palestrantes, chamou-me a atenção pela fala mansa e sábia, sem a afetação acadêmica de alguns de seus companheiros de mesa. Palavras de um contador de histórias, palavras de poeta. Foi com ele que mais aprendi ali, naquela manhã.
 
O escritor, nascido em 1944, em Papagaio (MG), confessa em uma entrevista ter aprendido a usar as palavras com o avô que as escrevia nas paredes da casa formando frases.

Filho de caminhoneiro e mãe leitora, como revelou, foi menino franzino e aprendeu a gostar de literatura, além do avô, com uma professora pela qual tinha admiração e afeto nos primeiros anos de escola. 

“Acho que a aprendizagem no início da infância está na ordem puramente do afetivo. Sem isso não dá”... Quando se trabalha com a infância é muito bom nos policiarmos sobre o olhar que destinamos ao outro e que muitas vezes interdita o outro. Como tantas vezes disse que a literatura estimula dúvidas e não certezas: A palavra é para abrir portas e não para pintar uma única paisagem”.

“A literatura é essa coisa exagerada de fantasia. A gente só fantasia o que não temos. Não fantasiamos o que temos. Então, a literatura é feita de falta. O que escrevo é o que me falta. É isso que a literatura faz. A literatura é o lugar da falta. Para a escola é muito difícil cuidar da liberdade. A liberdade é muito fascinante, muito boa. A liberdade é uma coisa extremamente exagerada, bonita, clara. E a escola não dá conta disso”.

Este pode ser um pensamento controverso, mas é a fala de um escritor que escreveu mais de 40 livros, foi traduzido em vários idiomas e escreveu como ele próprio dizia não somente para ser lido por “criancinhas”.

Bartolomeu idealizou o Movimento por um Brasil Literário, do qual participava ativamente. Ele recebeu, ainda, láureas literárias importantes, como Grande Prêmio da Crítica em Literatura Infantil/Juvenil pela APCA, Jabuti, FNLIJ e Academia Brasileira de Letras.

Bartolomeu morreu em 16 de janeiro último.  Aqui fazemos uma homenagem em sua própria voz: “Sou frágil o suficiente para uma palavra me machucar, como sou forte o bastante para uma palavra me ressuscitar”.

Tite de Lamare
Instituto Repare - Esquina do Livro

Veja esse texto também no site do Esquina do Livro, acessem: www.esquinadolivro.org.br

09 janeiro 2012

Voluntários: Corações que aquecem o final de ano em Campinho

Ser voluntário de um projeto social é como se expressar usando uma imagem: tirar um pouco de céu com o arado que usou na terra. Trocando em miúdos: você trabalha com prazer e por prazer para fertilizar o que tocou.

Há cinco anos, alguns voluntários da loja CA de Madureira tornam o Natal de crianças em Campinho uma data inesquecível. Presentes lindamente embrulhados se esparramam pelo chão e paredes do recanto infantil da Biblioteca Esquina do Livro.

Eles são alguns anjos da guarda, e se esforçam todo ano, para arrecadar dinheiro de funcionários para comprar brinquedos e levar para Campinho.

Neste ano não foi diferente. Além do aporte da loja de Madureira, o Esquina do Livro recebeu presentes dos voluntários da loja CA no Carioca Shopping.

As fotos estão aí para mostrar o quanto mãos e corações voluntários podem trazer de alegria nesta data do ano. 








Obrigada mais uma vez!

Esquina do Livro
Instituto Repare

Diário de Bordo: quando ler pode ser uma viagem

Criamos no Projeto Esquina do Livro em Campinho, há cerca de um ano, aquilo a que viemos chamar de Diário de Bordo. Para cada leitor temos um caderno que acaba sendo customizado por cada freqüentador da biblioteca comunitária.

O Diário de Bordo, além de incentivar a escrita e a expressão verbal de crianças e adolescentes, surge como um instrumento de avaliação do trabalho de mediação conduzido pelas educadoras.





 Vejamos alguns depoimentos:

Danielle Souza, de 10 anos elege um de seus títulos preferidos que é o “Menina Bonita do Laço de Fita”, de Ana Maria Machado. “Maneiro”, diz. Gostou também de “A Voz da Estrela” de Claudia Cortes.

Bárbara Barros prefere se exprimir pela linguagem do desenho: entre o Menino Maluquinho de Ziraldo e uma história sobre botos fez vários esboços que ilustram a experiência leitora em seu Diário de Bordo.

Já Débora Nunes, de 12 anos, coloca sua preferência por ler à noite e adora o livro “As sobrinhas da bruxa Onilda”. E Juliana Dias, de 10 anos, escreve que gosta de ler, ver vídeo e escrever em seu diário.
Por fim, Bianca que mora em frente à biblioteca, do alto de seus 9 anos pontifica: “ Hoje eu li alguns poemas”.

O Diário de Bordo costuma vir acompanhado de depoimentos de algumas mães. Muitas delas exibem uma queixa com o olhar sorridente, revelando que seus filhos e filhas gostam muito de ler à noite (em vez de dormir). Mônica, mãe de Taís, de 9 anos, diz que a filha não obedece ao comando de apagar luzes. Acende o celular para iluminar as páginas do livro que lê no momento.

A palavra final fica com Kauã de 7 anos : “Li todo o livro de noite, pois é mais silencioso que na biblioteca!”

É por este motivo e tantos outros que continuamos nossa viagem e quantos mais diários houver estaremos mais felizes!

Tite de Lamare
Instituto Repare - Esquina do Livro