A primeira vez que vi e ouvi Bartolomeu Campos de Queiróz estava eu em uma platéia de gente interessada em projetos de leitura e ele, entre outros palestrantes, chamou-me a atenção pela fala mansa e sábia, sem a afetação acadêmica de alguns de seus companheiros de mesa. Palavras de um contador de histórias, palavras de poeta. Foi com ele que mais aprendi ali, naquela manhã.
O escritor, nascido em 1944, em Papagaio (MG), confessa em uma entrevista ter aprendido a usar as palavras com o avô que as escrevia nas paredes da casa formando frases.
Filho de caminhoneiro e mãe leitora, como revelou, foi menino franzino e aprendeu a gostar de literatura, além do avô, com uma professora pela qual tinha admiração e afeto nos primeiros anos de escola.
“Acho que a aprendizagem no início da infância está na ordem puramente do afetivo. Sem isso não dá”... Quando se trabalha com a infância é muito bom nos policiarmos sobre o olhar que destinamos ao outro e que muitas vezes interdita o outro. Como tantas vezes disse que a literatura estimula dúvidas e não certezas: “A palavra é para abrir portas e não para pintar uma única paisagem”.
“A literatura é essa coisa exagerada de fantasia. A gente só fantasia o que não temos. Não fantasiamos o que temos. Então, a literatura é feita de falta. O que escrevo é o que me falta. É isso que a literatura faz. A literatura é o lugar da falta. Para a escola é muito difícil cuidar da liberdade. A liberdade é muito fascinante, muito boa. A liberdade é uma coisa extremamente exagerada, bonita, clara. E a escola não dá conta disso”.
Este pode ser um pensamento controverso, mas é a fala de um escritor que escreveu mais de 40 livros, foi traduzido em vários idiomas e escreveu como ele próprio dizia não somente para ser lido por “criancinhas”.
Bartolomeu idealizou o Movimento por um Brasil Literário, do qual participava ativamente. Ele recebeu, ainda, láureas literárias importantes, como Grande Prêmio da Crítica em Literatura Infantil/Juvenil pela APCA, Jabuti, FNLIJ e Academia Brasileira de Letras.
Bartolomeu morreu em 16 de janeiro último. Aqui fazemos uma homenagem em sua própria voz: “Sou frágil o suficiente para uma palavra me machucar, como sou forte o bastante para uma palavra me ressuscitar”.
Tite de Lamare
Instituto Repare - Esquina do Livro
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