22 janeiro 2016

O trabalho diário de emprestar livros literários...

Hoje na Biblioteca Comunitária Wagner Vinício vivenciamos uma situação interessante e um ganho para nós profissionais que estamos há bastante tempo, engajados no trabalho de democratização da leitura literária. 
Uma menina adentrou a Biblioteca com chinelos de dedos trocados, guarda chuva com apenas uma das partes, com uma sacola de mercado local e dentro alguns livros e um sorriso de ponta a ponta no rosto que até esquecemos que hoje o sol não sorriu pra nós.  Estes livros fazem parte do acervo da Biblioteca e essa menina é Bárbara de apenas 5 anos, e pela primeira vez teve a oportunidade de levar para casa um livro, que fugisse do modelo de gibis.
 O trabalho de empréstimo de livros  acontece com crianças que possuem a idade de Barbara. Há um “preparo” para que elas possam levar livros para casa: Inicialmente disponibilizamos os gibis, essa literatura de massa que na maioria das vezes é o primeiro acesso ao universo de livros para muitas crianças, Por que primeiro os gibis ? Porque é um  material de fácil aquisição e pouco custo e acima de tudo é um estilo de leitura que provavelmente os pais dessas crianças tiveram acesso quando crianças e tem alguma familiaridade para lerem juntos. Claro que neste processo de empréstimo, muitos gibis não voltam, alguns voltam sem suas capas. Neste período as crianças  voltam sempre , algumas sem jeito de falar o terrível acontecido com os gibis.. rs! Porém é neste período que o mediador de leitura, que atua no espaço, transita entre o acervo e mantém o contato direto com as crianças  realizando um trabalho de interação entre o objeto e o leitor. Há um trabalho de aproximação do leitor com as narrativas, prosas, poesias e materialidade do livro. É realizado um trabalho de tatear o livro, sentir o cheiro desse objeto, textura e a leitura desses signos que vão transitar de maneiras diferentes na vida de cada um deles. Depois de todo esse  processo de construção, de sentido entre leitor e livro,  o leitor  começa a caminhar  mais livre no universo dos livros e narrativas, se torna mais autônomo. Se legitima leitor,  como Bárbara que disse: “ Eu sou da Biblioteca” , alguém arrisca a dizer que não ?  Quando essa menina vem na chuva,  abraçada com seu livro  para devolver numa alegria que só ela pode descrever, com certeza algum sentido esse espaço Biblioteca e os livros já estão fazendo na vida dela. É esse o objetivo dentro das comunidades: que os livros e o equipamento cultural Biblioteca, espaço de democratização social e conhecimento e reflexão  façam sentido na vida de todos esses indivíduos, para que eles possam estar cada vez mais envolvidos no âmbito da leitura. 
Isso garante que sejam leitores plenos quando adultos?  Não podemos afirmar, porém o acesso a cultura escrita está sendo assegurado.
Carlos Alberto M Honorato - mediador de leitura da Biblioteca Comunitária Wagner Vinicio